sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Os rins






Os rins representam no corpo humano
o âmbito da convivência. As dores e afecções dos rins costumam surgir quando
existem problemas de relacionamento e de convivência. Não se trata tanto de relações
sexuais mas antes da capacidade de relacionamento com os seus semelhantes na
generalidade. A forma como a pessoa enfrenta as demais manifesta-se com especial
clareza nas relações conjugais ou de parelha mas é comum a todas as relações. Para se
entender melhor a relação entre os rins e a comunicação com o próximo será
conveniente, antes de mais, examinarmos as bases do relacionamento humano em
termos psíquicos.
A natureza polar da mente impede-nos de ter consciência daquilo que somos na
totalidade e faz com que nos identifiquemos com uma parte apenas do nosso Ser.
Chamamos a essa parte Eu. Aquilo que não vemos constitui a nossa sombra que, por
definição, desconhecemos. O caminho que o Ser Humano deve seguir é aquele que o
conduza a um conhecimento acrescido, um caminho que o force constantemente a
tomar consciência dessas partes de sombra que até então desconhecia e a integrá-las
na sua identidade. Este é um processo de aprendizagem que não acaba enquanto não
possuirmos o conhecimento total, até que estejamos «completos». Falamos de uma
unidade que abrange toda a polaridade sem distinção, ou seja, tanto o lado feminino como o masculino.
O indivíduo completo é andrógino - fundiu na sua alma os aspectos masculino e
feminino para lograr a unidade (boda química). Não se confunda androginia com
dualidade; o carácter andrógino refere-se, naturalmente, ao aspecto psíquico: o corpo
conserva sempre o seu sexo. Mas a mente deixa de se identificar com ele (tal como a
criança se não identifica com o seu sexo ainda que o possua fisicamente). Esse
objectivo de pendor bissexual encontra-se, também, expresso na indumentária dos
sacerdotes e na opção pelo celibato.
Ser homem significa identificar-se com o pólo masculino da alma, o que relega
automaticamente o pólo feminino para a sombra. Por sua vez, ser mulher significa
identificação com o pólo feminino, o que força o pólo masculino para a sombra. O
nosso objectivo consiste em tomarmos conhecimento da nossa sombra, mas tal apenas
se consegue através da projecção - devemos procurar e encontrar fora de nós aquilo
que nos falta e que, no entanto, já reside em nós.
A primeira vista isso poderá parecer paradoxal; talvez por isso sejam tão poucos os
que o entendam. O reconhecimento requer divisão entre sujeito e objecto. Por exemplo, o olho vê mas é incapaz de se ver a si mesmo; necessita para tanto de uma
projecção sobre um objecto. Nós os humanos encontramo-nos na mesma situação - o
homem apenas pode tomar consciência da parte feminina da sua alma (C. G. Jung
chamava-lhe anima) através da sua projecção sobre uma mulher concreta, e o mesmo
se dirá da mulher. Nós imaginamos a sombra como sendo estratificada. Existem
estratos (capas) muito profundos que nos deixam angustiados e estratos que se
encontram mais próximos da superfície esperando por serem reconhecidos e
assimilados. Quando encontro uma pessoa que exibe qualidades que residem na
superfície da minha sombra apaixono-me por ela. Ao dizer Ela, refiro-me tanto à
outra pessoa como a essa parte da minha própria sombra, posto que uma e outra são,
no fim de contas, idênticas.
Aquilo que amamos ou abominamos nos outros está, em última instância, em nós
mesmos. Falamos de amor quando o outro espelha uma zona da sombra que
assumiríamos de bom grado, e falamos de ódio quando aquilo que o outro reflecte é
um aspecto muito profundo da nossa sombra que não queremos ver em nós mesmos.
Sentimo-nos atraídos pelo sexo oposto porque é aquilo que nos falta. Não raro, por ser
algo que desconhecemos, atemoriza-nos. O encontro com o parceiro ideal é o
encontro com o aspecto desconhecido da nossa própria alma. Uma vez que tenhamos
compreendido com clareza este mecanismo de projecção de partes da nossa própria
sombra sobre terceiros passaremos a ver numa nova luz todos os problemas da
consciência. Todas as dificuldades que vivemos com o parceiro são dificuldades que
temos com nós mesmos.
A relação que estabelecemos com o inconsciente é sempre ambivalente: atrai-nos e
atemoriza-nos simultaneamente. Não menos ambivalente costuma ser a nossa relação
com o nosso parceiro: amamo-lo e odiamo-lo, queremos possuí-lo completa-mente e
livrar-nos dele, achamo-lo maravilhoso e irritante. No conjunto de actividades e
fricções que constituem uma relação não fazemos mais do que andar às voltas em
torno da nossa sombra. É por isso que pessoas de carácter oposto acabam com frequência
juntas. Os opostos atraem-se - todos nós o sabemos, e não obstante sempre
pasmamos que «sendo tão diferentes se dêem tão bem». Quanto maiores as diferenças
melhor se entenderão porque cada uma vive a sombra da outra ou - mais precisamente
- cada uma faz com que a sua sombra viva na outra. Quando um casal é formado por
pessoas demasiado parecidas, ainda que as relações resultem mais pacíficas e
cómodas o facto não costuma favorecer grandemente o desenvolvimento dos
intervenientes: o outro reflecte apenas um aspecto que se conhece de antemão. Tal não
acarreta complicações mas conduz à monotonia. Os dois acham-se mutuamente
maravilhosos e projectam a sombra comum sobre o seu entorno que por sua vez
tratam de evitar. Num casal, apenas as divergências são fecundas, uma vez que através
delas - confrontando-se a própria sombra que se manifesta no outro - se torna possível encontrar-se a si mesmo. Claro está que o
objectivo desta tarefa consiste em encontrar a sua própria identidade total.
A situação ideal é aquela em que, ao cabo da convivência, duas pessoas se tenham
completado a si mesmas ou, pelo menos -tendo renunciado ao ideal -, tenham
evoluído ao descobrirem e assumirem conscientemente partes da alma que ignoravam.
Não se trata, obviamente, do casal de pombinhos incapazes de viverem um sem o
outro. Esta afirmação de não ser capaz de viver sem o outro indica que por uma
questão de comodidade (poderíamos também dizer por cobardia) alguém se serve de
outra para permitir que a sua própria sombra viva sem se reconhecer a si mesma na projecção da sombra nem assumi-la. Nesses casos (e são a maioria), um dos
elementos impede o outro de se desenvolver na medida em que o desenvolvimento
implicaria que se questionasse o papel que cada um havia adjudicado inicialmente
para si mesmo. Num grande número de casos em que algum dos dois se submete à
psicoterapia o outro invariavelmente se queixa do quanto aquele se modificou...
(quando afinal «apenas queríamos que desaparecesse o sintoma!»)
A associação do casal alcança o seu objectivo quando um dos elementos deixa de
precisar do outro. É nesse caso, e apenas nesse, que se afigura sincera a promessa de
«amor eterno» ou-trora jurada. Amar é um acto da consciência e significa abrir as
fronteiras da sua própria consciência para permitir a entrada daquilo que se ama. Ora,
tal só acontece quando acolhemos na nossa alma tudo aquilo que o parceiro representa
ou - dito de outra maneira - quando assumimos todas as projecções e nos
identificamos com elas. Nessa altura o outro deixa de fazer as vezes de superfície de
projecção apenas - nada mais nos atrai ou repele nele -, e o amor torna-se eterno, ou
seja, independente do tempo, uma vez que se realizou na própria alma. Tais considerações
sempre suscitam um certo receio naquelas pessoas que têm projecções
puramente materiais e depositam o amor nas formas e não no fundo da consciência.
Esta atitude vislumbra na transi-toriedade do plano terreno uma ameaça e consola-se
com a esperança
de poder vir a encontrar os seus «entes queridos» no além. No entanto,
costuma descurar que o «além» está sempre presente aqui. O «além» é a zona que
transcende o plano das formas materiais. Basta que transmutemos na mente todo o
visível e de imediato nos encontramos para além das formas. Ora, se tudo o que é
visível não passa de um símbolo, porque não haveriam de sê-lo também as pessoas?
Temos de tornar supérfluos tanto o mundo visível como o nosso companheiro através
da nossa maneira de ser. Os problemas apenas surgem quando duas pessoas
«utilizam» a associação que formam de maneiras diferentes, e quando uma reconhece
as suas projecções e as integra, enquanto a outra apenas se limita a projectar-se. Em
semelhante circunstância, quando algum dos dois se torna independente o outro ficará
de coração destroçado. E quando nenhum dos dois ultrapassa a fase da projecção
depara-se-nos uma daquelas paixões de caixão à cova que se arrastam até à morte e
dão lugar ao desconsolo uma vez desaparecida a outra metade! Feliz aquele que tenha
compreendido que nada nem ninguém lhe conseguirá retirar aquilo que tenha
assumido no seu íntimo. O amor ou é uno ou não é nada. Enquanto incidir apenas
sobre os objectos externos não terá atingido o seu objectivo. É importante que se
conheça com exactidão esta inter-rela-ção do casal antes de estabelecermos a analogia
com os rins e com aquilo que aí acontece. Existem no corpo humano órgãos
singulares (estômago, fígado, pâncreas) e órgãos pares, como os pulmões, os
testículos, os ovários. Se examinarmos os órgãos pares é curioso notar que todos
possuem uma relação com a temática do «contacto» ou da «convivência». Enquanto
os pulmões representam o contacto e a comunicação com o meio envolvente em geral,
e os testículos e ovários (órgãos sexuais) representam a relação sexual, os rins por sua
vez correspondem à convivência com o semelhante. Estes três campos equivalerão
porventura às três denominações gregas do amor: filia (amizade), eros (amor sexual) e
ágape (a progressiva unificação com o todo).
Todas as substâncias que entram no corpo humano passam para o sangue. Os rins
actuam como uma central de filtragem.
Para poderem exercer essa função têm de poder reconhecer quais as substâncias que o
organismo tolera e é capaz de aproveitar e quais os resíduos e toxinas que devem ser
expulsos. Para realizar essa difícil tarefa os rins dispõem de mecanismos diferentes
que, dada a complexidade, reduziremos a duas funções básicas: a primeira etapa de
filtragem funciona como uma peneira mecânica na qual partículas que excedam um
determinado tamanho são retidas. Os poros dessa peneira têm a dimensão exacta para
que seja retida a mais ínfima molécula de albumina. A segunda etapa, algo mais
complexa, baseia-se numa combinação de osmose e princípio de contracorrente. A
osmose consiste, essencialmente, no equilíbrio da pressão e na concentração dos
líquidos separados entre si por uma membrana semipermeável. O princípio da
contracorrente faz com que os dois líquidos de concentrações diferentes circulem
reiteradamente em sentido contrário permitindo que os rins, em caso de necessidade,
expulsem a urina concentrada (através, por exemplo, da micção matinal). Esta compensação
osmótica serve, em última análise, para reter os sais vitais para o corpo dos
quais depende, entre outras coisas, o equilíbrio entre ácidos e alcalinos.
O leigo costuma ignorar a importância vital que reveste para o corpo o equilíbrio dos
ácidos, o qual se exprime numericamente através do valor pH. Todas as reacções
bioquímicas (como a produção de energia e a síntese de albumina, por exemplo)
dependem de um valor pH estável dentro de parâmetros muito estreitos. O sangue
mantém-se no justo meio entre o alcalino e o ácido, entre o Yin e o Yang. De igual
modo, toda a forma de sociedade consiste na tentativa de colocar os dois pólos em
equilíbrio harmonioso - o masculino (Yang, ácido) e o feminino (Yin, alcalino). Assim
como o rim se encarrega de garantir o equilíbrio entre o ácido e o alcalino, também a
sociedade procura, de forma análoga, que o indivíduo se aperfeiçoe e se complete
mediante a união com outra pessoa que viva a sua sombra. Dessa forma, graças à sua
maneira de ser, a «cara metade» compensa aquilo que falta à outra.
De qualquer das maneiras o maior perigo de um casal reside na convicção de que o
problema e as perturbações se devem
unicamente à convivência entre as partes e nada têm a ver com os próprios elementos.
Se tal acontecer corre-se o risco de ficar preso na fase da projecção e de não se
reconhecer a necessidade e o benefício de assumir e integrar a parte da própria sombra
que é reflectida pelo parceiro e que permitirá crescer e amadurecer graças à tomada de
consciência que daí advém. Se o erro a que nos referimos se reflectir no plano
somático, os rins deixarão passar substâncias vitais (albumina, sais) através do
sistema de filtragem e os elementos essenciais para o desenvolvimento pessoal
escapam para o mundo exterior (tal como sucede, por exemplo, no caso da
glomerulonefrite). Os rins revelam assim a mesma incapacidade para a assimilação de
substâncias importantes manifestada pela mente ao não reconhecer como próprios
problemas importantes que prefere carregar sobre o outro. Assim como o indivíduo
tem de reconhecer-se a si mesmo no parceiro, também os rins necessitam da faculdade
para reconhecerem a importância das substâncias «alheias» vindas do exterior para o
desenvolvimento e a realização pessoais.
A estreita relação que existe entre os rins e a temática do «relacionamento» e da
«comunicação» pode deduzir-se claramente de determinados costumes da vida diária.
A bebida desempenha um papel preponderante em todas as ocasiões em que as
pessoas se reúnem com o propósito de comunicar. Não é caso para estranhar, dado
que a bebida estimula o rim - «órgão de comunicação» - e por conseguinte, também, a
faculdade de comunicação psíquica. Torna-se mais fácil estabelecer o contacto
fazendo colidir cálices de vinho ou canecas de cerveja. Trata-se de uma colisão sem
agressividade. Quase sempre se rega com cerveja ou vinho o ritual de irmandade que
quebra o gelo e substitui o tratamento distanciado na terceira pessoa por um «tu» mais
chegado. Por vezes, o estabelecimento de contacto seria praticamente inconcebível
sem uma bebida em comum. Tanto num encontro social como numa festa popular é
costume beber para se aproximar de outra pessoa. É por essa razão que se costuma
encarar com algum receio aquele que pouco ou nada bebe, dado que a sua atitude
revela que não deseja estimular os seus órgãos de contacto e prefere manter-se à distância. Em todas essas situações é costume dar
preferência a bebidas diuréticas que estimulam os rins, tais como o café, o chá e o
álcool. (Nos encontros sociais não só se costuma beber como, também, fumar. O
tabaco estimula o outro órgão de contacto, os pulmões. É sobejamente sabido que
uma pessoa fuma muito mais quando está acompanhada do que quando está só.) O
acto de beber revela o desejo de estabelecer contacto, ainda que esse contacto não
passe de mero sucedâneo da verdadeira comunicação.
Os cálculos formam-se em virtude da precipitação e cristalização do excesso de certas
substâncias da urina (ácido úrico, fosfato e oxalato cálcico). Para além das condições
ambientais, a quantidade de líquido ingerido influi, também, na formação de cálculos;
o líquido reduz a concentração de uma substância e aumenta a solubilidade. Quando
um cálculo se forma o fluxo é interrompido, o que pode dar origem à cólica. Esta
consiste numa tentativa do corpo para expulsar o cálculo através de movimentos
peristálticos do meato urinário, um processo que é tão doloroso como um parto. A dor
da cólica provoca grande desassossego e desejo de movimentação. Caso a cólica
gerada pelo próprio corpo não seja suficiente para expulsar a pedra, o médico fará
com que o paciente dê saltos para ajudar a desalojar o cálculo. O tratamento
geralmente aplicado para acelerar o parto da pedra consiste numa combinação de
relaxamento, calor e ingestão de líquidos.
É por de mais evidente a relação entre o processo acima descrito e aquilo que ocorre
no plano psíquico. O cálculo é composto de substâncias que deveriam ter sido
eliminadas por não serem necessárias para o corpo. Tal corresponde a uma
acumulação de temas que o indivíduo há muito deveria ter colocado de parte por não
serem necessários para o seu desenvolvimento. Caso se insista em se agarrar a temas
supérfluos e que tendem a arrastar-se, estes acabam por bloquear a corrente do
desenvolvimento e produzem congestão. O sintoma da cólica induz ao movimento
necessário que se desejava impedir através de uma atitude empedernida, e o médico
exige do paciente precisamente aquilo que se afigura mais conveniente: o salto. Só um salto em frente, deixando para trás o que
não serve, poderá fazer com que o desenvolvimento flua de novo e libertar-nos do
empedernimento (a pedra).
As estatísticas indicam que os homens são mais propensos a sofrerem de cálculos
renais do que as mulheres. O homem tem maior dificuldade em encarar os temas da
convivência e da harmonia do que a mulher, melhor dotada para lidar com tais princípios.
Ao invés, a auto-afirmação, mais agressiva, afigura-se mais difícil para a
mulher, por se tratar de um princípio mais próprio do homem. Isso reflecte-se,
estatisticamente, na maior incidência de cálculos biliares nas mulheres, conforme
referimos anteriormente. As medidas terapêuticas aplicadas às cólicas nefríticas
descrevem por si só os princípios que podem servir de auxílio na solução de
problemas de harmonia e convivência: o calor, como expressão de amor e afecto; o
relaxamento dos vasos contraídos, em sinal de receptividade e vontade de
desenvolvimento e, por fim, a ingestão de líquidos para que tudo possa voltar a fluir.
Rim contraído - Rim artificial
A degeneração atinge o seu ponto culminante quando todas as funções do rim cessam
e a tarefa vital da purificação do sangue tem de ser assegurada por uma máquina - o
rim artificial (diálise). Nessa altura, aquele que foi incapaz de resolver os seus
problemas com o parceiro de carne e osso depara com a máquina perfeita como novo
parceiro. Quando nenhuma relação foi suficientemente boa nem suficientemente
segura, ou quando o anseio pela liberdade se sobrepôs a tudo o resto, o indivíduo descobre
no rim artificial o parceiro ideal que faz tudo o que lhe é pedido sem nada exigir
em troca. Por outro lado, porém, passa a ficar completamente dependente da máquina:
tem de se encontrar com ela no hospital pelo menos três vezes por semana ou - caso
consiga adquirir máquina própria - dormir fielmente a seu lado, noite após noite.
Nunca dela se poderá afastar por demasiado tempo, e talvez aprenda assim que para quem não é perfeito não existe um
parceiro perfeito.
Doenças renais
Quando o rim é afectado, deveriam ser feitas as seguintes perguntas:
1. Que problemas é que tenho no campo da convivência com o meu parceiro?
2. Costumo ficar preso na fase da projecção e considerar os defeitos e problemas do
meu parceiro como sendo seus exclusivamente?
3. Tenho dificuldade em reconhecer-me a mim mesmo no comportamento do meu
parceiro?
4. Tenho tendência para agarrar-me a problemas do passado, impedindo assim o livre
curso do desenvolvimento?
5. Quais os saltos que a pedra no meu rim me quer forçar a dar na realidade?
A bexiga
A bexiga é o recipiente no qual todas as substâncias rejeitadas pelos rins esperam para
ser expelidas do corpo sob a forma de urina. A pressão provocada pela urina
acumulada conduz, após algum tempo, à evacuação que acaba por proporcionar a sensação
de alívio. Todos sabemos, por experiência própria, que a vontade de urinar está
relacionada frequentemente com determinadas situações. Costumam ser sempre
situações em que o indivíduo se encontra sob alguma forma de pressão psíquica, seja
por ocasião de um exame, de um tratamento médico ou de situações similares que
geram ansiedade ou tensão. A pressão, vivida antes de mais no plano psíquico, passa
ao plano físico e manifesta-se na bexiga.
A pressão sempre nos insta a soltar e a relaxar. Quando somos incapazes de atender a
esse apelo no plano psíquico, vemo--nos forçados a fazê-lo através da bexiga. A
intensidade da dor, quando não libertada a pressão, e a intensidade do alívio sentido
ao libertá-la são indicadores da magnitude da pressão provocada por uma situação
determinada. A somatização permite, além disso, que se transforme a pressão que é
vivida de modo passivo em pressão activa, na medida em que graças ao pretexto de ir
à casa de banho se torna possível interromper ou manipular qualquer situação. O
indivíduo que tem de ir à casa de banho sente uma pressão e, simultaneamente,
exerce-a - sabem-no bem o estudante e o paciente que sempre recorrem a esse sintoma
de modo inconsciente mas infalível, no momento certo.
A relação entre sintoma e manipulação - especialmente evidente no exemplo acima
exposto - desempenha também um papel importante em todos os sintomas. O doente
tem sempre a tendência para utilizar os seus sintomas como um meio de pressão. Ao
dizermos isto, remexemos num dos maiores tabus do nosso tempo. A ânsia da
dominação é um dos problemas básicos do Ser Humano. Enquanto o Homem possuir
um Eu, ansiará pelo domínio e pelo exercício do poder. Cada «...mas eu quero!» é a
expressão desse desejo ardente de dominar. Ora bem, dado que, por outro lado, o
poder se converteu num conceito com conotações negativas, os humanos sentem-se
agora obrigados a dissimular o jogo. São relativamente poucas as pessoas que têm a
coragem de declarar assumidamente a sua fome de poder. A maioria procura impor-se
indirectamente. Para tal, recorre antes de mais à doença e ao desamparo social - meios
relativamente seguros que jamais serão questionados porque os processos funcionais e
o meio social estão acima de qualquer suspeita.
Dado que quase todos recorremos, nalguma medida, a semelhantes meios nas nossas
estratégias de domínio, ninguém tem interesse em que sejam desmascarados e
qualquer tentativa dirigida a esse fim é reprimida com grande indignação. O mundo
em que vivemos é susceptível de ser coagido pela morte e pela doença. Através da doença sempre se consegue aquilo que não se conseguia obter
sem sintomas - atenção, compaixão, dinheiro, tempo livre, auxílio e poder social sobre
os demais. Este benefício secundário da doença que se consegue através do recurso ao
sintoma como instrumento de domínio, não raras vezes constitui um impedimento à
cura.
O tema do «sintoma como expressão de domínio» está bem patente na enurese. Se,
durante o dia, a criança se vê sujeita a uma pressão de tal modo forte (dos pais, da
escola) ao ponto de não poder relaxar nem formular as suas próprias pretensões, a
enurese resolve vários problemas de uma só vez: permite o relaxamento da pressão
sofrida e proporciona simultaneamente a oportunidade de fazer com que os pais,
sempre tão fortes e poderosos, sejam reduzidos à impotência. Graças a este sintoma a
criança responde, de modo simulado, claro, à pressão que tem de suportar durante o
dia. Há que não descurar, também, a relação existente entre a enurese e o choro.
Ambos servem para descarregar uma pressão interna. Por essa razão poderíamos
também descrever a enurese como um «pranto inferior».
Em todos os restantes sintomas da bexiga intervêm temas previamente comentados.
Na cistite ou inflamação da bexiga urinária, o ardor sentido ao urinar indica
claramente ao paciente o quanto lhe custa «deixar as coisas correr». A vontade
frequente de urinar sem evacuação de líquido ou com evacuação muito reduzida
revela uma total incapacidade para largar apesar da pressão. Em todos estes sintomas
há que não esquecer que as substâncias ou, na ocasião, os temas que há que deixar
correr estão já ultrapassados e mais não são do que lastro.
Doenças da bexiga
As afecções da bexiga suscitam as seguintes perguntas: 1. A que coisas é que me
agarro, apesar de estarem ultrapassadas e à espera de serem evacuadas?
2. O que faz com que eu próprio me submeta a pressões e as projecte sobre os outros
(um exame, o meu patrão)?
3. Que temas ultrapassados é que tenho de deixar correr?
4. Por que razão é que choro?

Um comentário:

  1. Olá,
    Acredito muito nas doenças psicossomáticas...
    Abraços fraternos de paz e alegria

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